LIGAS DE REFERÊNCIA: A primeira jornada após o defeso

Varzim SC 0 – 1 FC Paços de Ferreira

O primeiro “Ligas de Referência” teve como prato forte o confronto entre Varzim SC e FC Paços de Ferreira. Os poveiros, sobretudo quando jogam em casa, são uma equipa difícil de bater, impulsionados por um público entusiasta e um técnico – Nuno Capucho – com mentalidade aguerrida, que já passou pela primeira liga. Os pacenses são uma equipa que se consolidou no principal escalão, de tal modo que chegou mesmo a terminar no pódio e a participar nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, querendo provar que esta descida foi um breve percalço e tendo mesmo contratado o treinador “especialista em subidas” Vítor Oliveira.

No Varzim SC, destaque para a estreia de Emanuel Novo, recém-regressado ao primeiro clube onde se formou, ele que substituiu na equipa o guarda-redes “pontapé-canhão” Paulo Vítor, transferido entretanto para o grande rival Rio Ave. De salientar, igualmente, a curiosidade de Mário Sérgio – jogador experiente e com uma prestigiada carreira – defrontar o clube que o formou e lançou para a ribalta. Do lado dos “castores”, destaque para o excelente regresso de Luiz Carlos – 6 épocas depois -, a dominar o meio-campo e o desconcertante Fatai, que após 2 empréstimos parece estar finalmente a ganhar espaço no Paços.

O jogo começou com o golo dos visitantes, logo ao primeiro minuto, num cabeceamento de Marco Baixinho na sequência de um pontapé de canto que ainda desviou na coqueluche Luiz Phellype. Quem enche, contudo, as medidas é o meio campo dos castores, com Pedrinho a pautar todo o jogo. Não espantou que os forasteiros tivessem controlado todo o jogo e, consequentemente o resultado, resistindo à reacção poveira e apenas não aumentando o marcador por responsabilidade do guardião Emanuel e por manifesta falta de qualidade no momento da definição.

Leixões SC 2 – 1 SC Farense

No Estádio do Mar, os leixonenses receberam os “Leões de Faro”, finalistas da última edição do Campeonato de Portugal. Estes dois emblemas históricos são orientados por treinadores promissores – destaque para o particularmente difícil trabalho de Rui Duarte num clube há muito mergulhado nas profundezas competitivas do nosso futebol.

André Ceitil jogou pelos visitados contra a sua antiga equipa, um Farense liderado pela qualidade superior do pivô Fabrício, bem secundado pela experiência do guardião “trota mundos” Daniel Fernandes e impulsionado pela dinâmica e assertividade do pé esquerdo de Jorge Ribeiro. Os visitantes adiantaram-se no marcador à passagem do quarto de hora de jogo, na sequência de um passe em profundidade para Mayambela, com o sul-africano a desferir um remate cruzado, em “chapéu” e a bater Tony. A principal responsabilidade foi de Derick Poloni, jogador com mais “mercado” dos matosinhenses, mas com algumas lacunas no capítulo defensivo.

Com um plantel repleto soluções de qualidade, o Leixões conseguiu chegar à igualdade: excelente jogada, a começar na iniciativa do central Matheus Costa, que progride com bola bem dentro do meio-campo adversário, criando desequilíbrio antes de fazer uma grande abertura para Kukula, que amortece para Luís Silva, com este a fuzilar com toda a classe, num remate colocadíssimo.

Quando os algarvios pareciam ter o jogo controlado, os visitados acabariam por chegar ao golo da reviravolta, num ataque rápido marcado pela gritante falta de agressividade – quer na pressão, quer ao nível posicional – da equipa forasteira: Erivaldo só teve de encostar.

Rio Ave FC 2 – 1 Portimonense SC

Os rio-avistas receberam, no Estádio dos Arcos, o Portimonense. O técnico José Gomes, com uma herança pesada deixada pela qualificação europeia e pela ideia de jogo sedutora – estilo tiki-taka – procurava ainda implementar as suas ideias, num plantel que viu partir praticamente todos os titulares que começaram 2017/18, à excepção de Tarantini. Os comandados de António Folha ainda procuravam a primeira vitória na competição, com o técnico ex-Porto B ainda à procura do melhor 11, após uma pré-época em que transferiu e… reaveio Ewerton e Paulinho, isto numa jornada em que ainda não pôde contar com o reforço-surpresa Jackson Martínez. O talentoso Wenderson Galeno defrontou a sua antiga equipa, parecendo estar agora mais maduro e num melhor enquadramento do que nos alvinegros.

Os vila-condenses abordaram o jogo de forma surpreendentemente apática, com os “Guerreiros do Sul” a imporem o seu jogo, num futebol apoiado a lembrar… o Rio Ave da época passada e a chegarem à vantagem aos 24 minutos, com Ewerton a cruzar de trivela e, perante a passividade da defesa visitada, Dener cabeceou para golo. No segundo tempo, os anfitriões lograram um golo logo após o reatamento, num ressalto aproveitado por Gabrielzinho para empatar a contenda. O golo trouxe ânimo à equipa da casa, que embora pouco esclarecida, construiu algumas oportunidades e, já contra nove e ao sexto minuto dos descontos, contou com o génio de Gelson Dala para chegar à reviravolta.

CD Santa Clara 4 – 2 Boavista FC

Os recém-promovidos açorianos receberam os axadrezados, que para esta época já não contam com o esteio da defesa Raphael Rossi, mas que ganharam soluções “à Boavista” como Rafael Costa, André Claro e Rafael Lopes. Os insulares contrataram, maioritariamente, de forma criteriosa, jogadores com experiência no primeiro escalão como Patrick Vieira, Fábio Cardoso, Ukra ou Zé Manuel, o que é sempre aconselhável para quem se pretende adaptar rapidamente a uma realidade num patamar superior.

Os boavisteiros abordaram a partida de forma estranhamente apática, sofrendo cedo o primeiro golo, lance de Fernando Andrade pela direita, a passar com facilidade pela numerosa oposição e a cruzar para o desvio, ao primeiro posto, do artilheiro Thiago Santana. O visitantes conseguiram empatar ainda no primeiro tempo, com um passe longo de Fábio Espinho a encontrar Falcone que, usa a sua agilidade para desviar para as redes.

A segunda parte manteve a toada de domínio dos insulares, com os golos a saírem naturalmente, em resultado da dinâmica imprimida por estes: o 2-1 numa jogada de Bruno Lamas pela esquerda, passando com classe por um adversário que tentava fazer “tackle”, e efectuando um cruzamento rasteiro perfeito, a fugir à defesa, com o destinatário Fernando Andrade a encostar, completamente isolado; o terceiro foi resultado de um livre directo perfeito do iraniano Osama Rashid.

As panteras ainda lograram o 3-2, com Talocha a aproveitar uma bola rechaçada e a desferir um remate cruzado, forte e colocado, parecendo ainda poder discutir o resultado. Puro engano, porque Rashid confirmaria já no oitavo minuto de descontos o primeiro triunfo caseiro do Santa Clara, na sequência de um ataque rápido, seguido de cruzamento da direita, com a defensiva forasteira a não aliviar e o homem do jogo a fazer um “passe” para a baliza adversária.

FC Porto 3 – 0 Moreirense FC

Os dragões viram sair vários jogadores que tiveram um papel relevante no título da época passada, como José Sá, Ricardo Pereira, Marcano, Reyes e André André, além de um outrora influente Layún e do promissor Gonçalo Paciência, mas elevaram a qualidade individual na defesa com Éder Militão e a qualidade das alternativas para a lateral esquerda e para o meio-campo, com as contratações de Jorge e Bazoer, respectivamente.

No lado dos cónegos, as saídas dos determinantes Sagna, André Micael, Boubacar, Alfa Semedo e Rafael Costa foram muito bem compensadas em quantidade e qualidade, com as aquisições dos promissores D’Alberto, Ivanildo Fernandes, Loum, Chiquinho e Heriberto, paralelamente aos fiáveis Fábio Pacheco, Pedro Nuno ou do veterano – que já foi o goleador-mor do nosso campeonato – Nenê.

A equipa da casa vinha de uma derrota caseira frente aos também minhotos do Vitória, optando por lançar Militão e Marega no lugar do ainda “verde” Diogo Leite e do lesionado André Pereira. O FC Porto dominou naturalmente as operações no primeiro período, pese a salutar qualidade do Moreirense com bola, à imagem da filosofia que Ivo Vieira sempre incute nas suas equipas.

No entanto, os anfitriões aproveitaram a ainda pouco afinada organização defensiva dos forasteiros e alguma sorte nos ressaltos para construir a vantagem: primeiro Herrera, na sequência de um pontapé de canto, encostou para o 1-0 e depois Aboubakar fez a recarga a um remate de Marega – numa iniciativa bem ao seu jeito – e aumentou a diferença. Após o terceiro 2-0 consecutivo ao intervalo – com sortes diferentes no final das duas anteriores partidas, mas “bloqueios” muito semelhantes – , os azuis e brancos entraram para o segundo tempo com a noção de que era importante controlar o jogo adversário para segurar a vitória e ultrapassar este trauma. A quebra de intensidade voltou a assombrar o jogo portista no regresso das cabines, com os forasteiros a aumentarem a eficácia nos duelos e, a espaços, a terem domínio territorial em posse.

Todavia, desta vez, a competência defensiva compensou essa passividade, com o estreante Éder Militão como expoente máximo, chegando mesmo a dobrar um erro comprometedor do experiente Felipe. Com oportunidades de parte a parte, as mais flagrantes eram da equipa da casa. Quando o jogo já se aproximava do apito final, Óliver abre na esquerda em Otávio, que progrediu com bola controlada e fez um centro-remate, aproveitado pelo oportuno Moussa Marega para endossar para a baliza deserta.

FC Porto B 2-1 Académico de Viseu FC

A turma orientada por Rui Barros recebeu o Académico de Viseu ainda à procura da primeira vitória na Ledman LigaPro. Os portistas não puderam contar com o promovido Diogo Leite e nesta janela de transferências “perderam” jogadores como Luís Mata, Rui Moreira e o desequilibrador Wenderson Galeno, mas aumentaram a qualidade global do plantel, com as entradas do jovem brasileiro João Pedro, da promessa nigeriana Kelechi – ex-Arsenal FC -, do segundo-avançado Rui Costa – que se notabilizou no Famalicão – e do ponta-de-lança Marius, além dos regressos de Fernando Fonseca e dos extremos Gleison e Rúben Macedo, além da promoção de jovens como Bessa e Paulo Estrela.

Os comandados de Manuel Cajuda, depois do grande investimento no reforço do plantel em 2017/18, esta época foram mais comedidos, apostando principalmente no regresso do extremo Luisinho e na contratação de Felipe Ryan, uma das figuras da transcendente época do Caldas; em sentido contrário viram deixar o clube jogadores importantes como o guardião Peçanha, o central Bura, o lateral Kiko, o centrocampista Zé Paulo e o extremo veloz Avto.

Na sequência de um passe em profundidade, o goleador N’Sor isolou-se e passou por Mbaye, que falhou a antecipação e viu o ganês inaugurar o marcador, mesmo antes do intervalo. Na etapa complementar, os azuis e brancos conseguiram a reviravolta, mercê de um autogolo do guarda-redes Jonas Mendes – após um cruzamento aparentemente inofensivo pelo flanco esquerdo portista e de uma grande penalidade cobrada por Rui Costa, com um remate colocado.

SC Braga B 0-3 FC Penafiel

A equipa B dos “Guerreiros do Minho”, com figuras como os defesas Bruno Wilson e David Carmo – campeão europeu de selecções em sub-19 -, e o extremo Trincão, defrontou o Penafiel, uma equipa que na época passada lutou pela subida à Liga NOS até às últimas jornadas. Os durienses, embora tenham perdido jogadores importantes como Kalindi e Fábio Fortes, reforçaram-se com o ex-FC Porto B Areias e o experiente goleador Pires. O sector atacante é, com efeito, o mais forte dos rubro-negros, onde além dos citados evoluem as outrora promessas e hoje “experimentados” Caetano e Ludovic. Foi precisamente o luso-francês a inaugurar o marcador bem cedo, com Vasco Braga a bisar – primeiro em bola corrida e depois numa grande penalidade – e a fixar o resultado final.

Para o guarda-redes José Costa, o central João Paulo, o médio Romeu Ribeiro e o ponta-de-lança Pires a partida marcou o reencontro com uma equipa por onde passaram, em fases diferentes das carreiras.

A vitória forasteira foi uma consequência natural da maior maturidade competitiva dos forasteiros, pese o maior talento na formação secundária dos minhotos.

CD Aves 0 – 1 CS Marítimo

O Desportivo das Aves, depois do espanto pelo plantel assegurado na época passada, desinvestiu esta época, para se tornar financeiramente sustentável. Ainda assim, manteve a base do sector defensivo – à excepção do retirado guardião Quim – e do sector ofensivo – só o promissor Alexandre Guedes se transferiu –, pelo que apenas o meio-campo defensivo teve perdas importantes como Paulo Machado ou Tissone. A verdade é que o jogador mais influente – Nildo Petrolina – continua nos avenses, que conseguiram construir um plantel equilibrado.

Esta jornada, o emblema da freguesia de Santo Tirso recebeu o Marítimo, que perdeu Pablo para o Sp. Braga, mas a meio-campo aumentou a capacidade de criar desequilíbrios, com a contratação de Barrera e o regresso à casa de partida de Danny; na frente, Joel Tagueu continua a liderar a dinâmica do sector, num estilo que faz lembrar Marega.

O técnico dos verde-rubros, Cláudio Braga, viu a equipa da casa chegar ao golo imediatamente antes do intervalo, num canto de Jean Cléber a solicitar a cabeçada certeira de Zainadine. Na segunda parte resistiram ao grande volume de jogo ofensivo da equipa da casa, parecendo os madeirenses estarem a aproveitar o que de melhor a filosofia de jogo de Daniel Ramos lhes proporcionara: uma ideia de jogo constrói-se a partir de uma boa organização defensiva.

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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